ENTREVISTA COM O CASAL JOAQUIM NUNES RIBEIRO (84 ANOS) E COM MARIA LUSIA COSTA RIBEIRO.
FAMÍLIA RIBEIRO
HM – Seu Joaquim e dona Maria, onde vocês viviam lá no Arari?
Joaquim Ribeiro - Meu pai morava bem ali naquele trecho que entrava na rua da casa de Joca Ribeiro.
HM – Que ia pro cocal?
Dona Maria – É, o cocal era do pai dele.
Joaquim Ribeiro – É a ilha, como nós chamávamos aquela área. Uma parte dela pertencia a Antonio Leite, que depois foi vendida para Manoel de Sousa.
HM – Dona Maria José (Saraiva), na entrevista que fiz com ela(e que está neste site) faz referência ao seu pai como fazendeiro. Com que mesmo ele trabalhava e quantos filhos teve?
Joaquim Ribeiro - Meu pai era criador de gado e era também agricultor. Ele
casou-se duas vezes: do primeiro matrimônio, nasceram Luís Ribeiro, Inez e Joana; do segundo, nasceram Isabelinha, Isabel, Osvaldo, Zé Ribeiro, Joca Ribeiro, Antonia, Maria Ribeiro, Zuleide, Manoel Ribeiro(que era chamado de Jesus, e é pai de Manoel Ribeiro, deputado), Elisa, eu, Terezinha e Beni.
HM – E o seu pai, dona Maria, fazia o quê?
Dona Maria – Meu pai era João Francisco da Costa, conhecido por João Chico.
Joaquim Ribeiro - O pai dela era suplente do juiz...
Dona Maria - É, papai substituía Thiago Fernandes, quando havia impedimento dele de realizar casamentos, em razão de parentesco com os que iam casar.
Joaquim Ribeiro – Tiago Fernandes era o homem mais inteligente que havia no Arari, nessa época; ninguém fazia nada sem consultá-lo.
HM – Quantos filhos vocês tiveram?
Joaquim Ribeiro - Eram 11, ficaram 10, porque Paulo morreu de infarto.
Joaquim Ribeiro - O mais velho é Seu Lucas(Lucas Neto), que é juiz estadual.
EMBARCAÇÕES DO RIO MEARIM
HM – Seu Joaquim, vamos falar das embarcações que navegavam pelo rio Mearim. Que tipos o senhor conheceu?
Joaquim Ribeiro – Eu conheci vapor, lancha e batelão.
HM – Quais os vapores que o senhor conheceu?
Joaquim Ribeiro – Conheci o vapor Rui Barbosa e o vapor Barão, que faziam a viagem daqui de São Luís até Pedreiras-MA, quando o inverno era grande. Eles rebocavam umas barcas de ferro...
HM – E os batelões?
Joaquim Ribeiro - O maior batelão que eu conheci foi um batelão chamado FLORESTA, que pertencia à empresa Tavares; ele pegava 3.800 sacos de arroz, de 60 kg. Os batelões não tinham motor; eles eram rebocados pelas lanchas e serviam só para carregar mercadorias.
O finado Zé Ribeiro, meu irmão, também tinha um batelão por nome Dois de Maio, que pegava mil sacos.
HM – E as lanchas?
Joaquim Ribeiro - Primeira lancha que conheci foi a Santa Rita, que era de Aracaty Campos. Depois, conheci a São Benedito, Estrela Branca, Estrela Polar, Estrela Astreia, Estrela do Mar, Estrela Aurora, Santo Antonio(uma lancha menor, que só viajava até o Arari) e a São José Tavares, que Aracaty Campos comprou. Era uma lancha de toldo e meio, que foi pro fundo na Boca do Rio. Essas todas eram lanchas de Aracaty Campos, e quase todas tinham dois toldos.
Agora, tinha as lanchas São Paulo e São Pedro, que eram do meu irmão José Ribeiro, em sociedade com Zezinho da Mata. Eu trabalhava nas lanchas do meu irmão.
HM – Essa é a lancha Bacabal. O senhor lembra dela?
Joaquim Ribeiro - Muuuuito. O comandante dessa lancha era até casado com uma tia de Maria; era Albino Fernandes. Os donos dessa lancha era uma firma de Bezerra.
HM – Que mercadoria essas lanchas transportavam?
Joaquim Ribeiro - Saindo de São Luís, a mercadoria transportada era café, açúcar, sabão, querosene, sal, carvão, etc, e, para voltar a gente carregava de côco babaçu, caroço de algodão, fardo de algodão e arroz.
HM - Elas faziam o papel de supermercado ambulante, não era?
Joaquim Ribeiro - Era, porque quando passava do Arari para a frente, a gente ia encostando em toda morada e ia vendendo as coisas.
HM - Quais os locais de Arari para a frente que as lanchas paravam?
Joaquim Ribeiro – Parava no Arari, na Vitória, no Ubatuba, na Boca do Rio (Grajaú), no São Benedito, no Santarém, no Paiol, no Criminoso, no Tarumã, na Laje Comprida (que era desses Macieis), aí a gente ia subindo; parava no Aratoí, no Porto da Parida, onde a gente deixava mercadoria que ia para Satubinha, e ia até o Furo Atolador.
HM – Como vocês lidavam com a entupição do rio, por mururu?
Joaquim Ribeiro - Para fugir dela, a gente desviava pelos canais que havia. Quando entupia o rio, os campos também ficavam todos cheios, e a gente ia por eles, procurando aquele lugar mais limpo, e saía lá adiante; saía no Lago das Itãs. Do lago das itãs para cima, não tinha mais entupição.
RIBEIROS, NA POLÍTICA ARARIENSE
HM – Esses ribeiros chegaam a se envolver em política de Arari?
Joaquim Ribeiro - Muito, muito. Nezico Ribeiro é meu sobrinho e foi até deputado. Maria Ribeiro, minha irmã, foi prefeita de Arari. Joca Ribeiro era político.
HM – Bembém era da família?
Joaquim Ribeiro – Bembém era irmã da mulher de Zé Ribeiro.
ANTONIO SANTOS
HM - O senhor foi aprendiz de carpinteiro, com o Sr Antonio dos Santos?
Joaquim Ribeiro – É, eu apendi lá uns tempos. Carpina. Nesse tempo, as casas era tudo feita de madeira. Antonio dos Santos era o maior carpina daquela época, e empreitava para fazer as casas, que eram sempre bem-feitas, bem seguras. Então, nós éramos aprendiz e nós íamos pra lá, pra ajudar.
HM - O senhor lembra de alguma das casas que foram feitas por seu Antonio Santos?
Joaquim Ribeiro – A casa do finado Zé Ribeiro, a casa de João Ericeira(que depois foi de Diquinho Fernandes) e outras.
II GUERRA
HM – Seu Joaquim, o senhor chegou a ser convocado para lutar na II Guerra mundial?
Joaquim Ribeiro – Não, mas os irmãos de Maria foram. Vieram para S. Luis e foram até a praia do caju para embarcar. Foram José Silvestre e Benedito Costa, que já morreram. Quando foi para eles embarcarem, veio a notícia de que a guerra tinha acabado.
PEDRO SARAIVA
HM – O senhor conheceu Pedro Saraiva?
Joaquim Ribeiro - Muito. Era tio de Maria.
Dona Maria – Pedro Saraiva era meu tio; meu pai era irmão dele, só por parte de mãe. Nessa casa de engenho tinha 5 relógios de parede; quando dava nove horas, por exemplo, tocavam todos juntos, o da sala, do quarto da copa...
Joaquim – Ele era um homem muito organizado, Pedro Saraiva. Teve duas casas de engenho: uma lá(no Batuba) e outra no Barreiros.
FOTO HISTÓRICA
HM – Esta é uma das fotos mais importantes de Arari, porque nessa rua é que ficavam as principais casas e instituições políticas de Arari, mas hoje praticamente não existe mais nada; a rua e muitas casas já foram completamente destruídas pela erosão, sem que os governantes fizessem um cais duradouro. Ela foi batida pelo seu José Ribeiro, que chamavam de Zé Padre.
Joaquim Ribeiro – Zé Padre era neto de finado Toneco; ele era filho de Tiago Ribeiro, que era irmão de Enilde Ribeiro. Tiago Ribeiro era sobrinho do meu pai. Aqui era a ponte velha, depois, ficava a casa de Jorge Cominho, depois dessa casa velha morava Luís Ribeiro (meu irmão), Antonio Garcia, aí tinha o beco; depois vinha Abrão Salomão, Zezinho Ourives, depois, morava um coletor federal, chamado Akin, e mais adiante ficava a capitania. Aí, vinha o pátio da igreja.
Dona Maria – Deixe eu lhe contar uma coisa. O senhor sabe quando a frente da igreja do Arari ficava muito bonita? Quando era semana santa. As lanchas iam chegando e ficava cheinho de lanchas naquele porto da igreja. Nesse tempo, a rua era larga!! Quando o padre estava celebrando a missa para romper a aleluia, e o sino tocava, as lanchas e os batelões saiam todos juntinhos, tocando foguete e apitando. Tinha gente que chorava! A Estrela Branca apitava até sumir na curva do rio.
Seu Joaquim – O comandante dessa Estrela Branca era Nemézio.
Dona Maria traz umas fotos para eu ver, e, entre elas, está uma bem pequeninha, de uma senhora. Pergunto que era.
Joaquim – Essa é Áurea Carvalho. Ela era enfermeira. Nesse tempo, ninguém aplicava injeção na veia, mas ela aplicava; ela casou com Dico de Manduca, que era comandante de lancha.
Dona Maria – Era uma grande pessoa; o sogro dela morava defronte daquele Cruzeiro, onde ficava a Cotonière; quando a gente tinha qualquer problema de saúde, ia aonde Áurea, que ela passava o remédio na hora.
HM - E este aqui, quem é?
Joaquim Ribeiro - Sou eu, no Lago da Morte, na década de 1960.
Hilton Mendonça agradece ao casal pelas valiosas informações prestadas nesta entrevista, que muito será útil aos futuros ararienses ou descendentes de ararienses, que tenham interesse em conhecer um pouco das suas próprias origens.
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