NA PRIMEIRA TARDE (CHUVOSA) DO MÊS DE JANEIRO/2011, ENTREVISTEI OS ILUSRES ARARIENSES MANOEL DA ASCENSÃO CHAVES E SUA ESPOSA, MARIA DAS GRAÇAS PESTANA.
HM – Bom dia, seu Manoel.
MANOEL CHAVES – Bom dia. Tu és a cara do teu pai, rapaz. Conheci ele no Centrinho, do Lago Açu. Eu e uns trabalhadores fomos tirar uma madeira no Igarapé Fundo e ele tinha um comércio [lá no centrinho]. Depois que eu tirei a madeira, fui comprar um litro de cachaça, na casa de Hilton Corrêa. Levantamos de madrugada, bebemos leite, e quando deu 9 horas, nós tava no aterrado. Peguei a garrafa, botei um pouco de cachaça numa cuinha, tomei um pouco, e dei pra Orestes e pra Antonio Maciel. Depois que o último tomou, nós caímos nágua, para poder arrancar os aterrados, para poder passar o garité. HM – Centrinho é na beira do Grajaú? MANOEL CHAVES – Não é na margem do rio, não; é longe. A gente ficava na Itã e subia. HM – Mas Hilton Corrêa teve comércio também no Bacuri. MANOEL CHAVES – Mas primeiro foi no Centrinho.
HM – O senhor nasceu quando?
MANOEL CHAVES – Nasci no dia 21/5/1925, no Arari.
HM – O senhor sempre morou na Tresidela? Quem eram os moradores daquela beira de rio?
MANOEL CHAVES - Sempre morei lá. Vamos começar aqui do Leó: subindo tinha Pedro Chaves (sobrinho de papai), Antonio dos Santos, que casou com Mundica, mãe de Joaquim Santos. Aí, depois era papai. HM – Como é o nome do seu pai? MANOEL CHAVES – Máximo Antonio Chaves. Eram 11 filhos, tem 6 vivos. HM – E depois do seu Máximo? MANOEL CHAVES – Vinha Melquíades Chaves, pai de Piano, e depois vinham os herdeiros de Lázaro Chaves. Aí, vai chegando pra perto, vem Henriqueta, sua avó. HM – Henriqueta Mendonça, filha de Pio? MANOEL CHAVES – É. Ela era prima de papai. Depois, ela casou com Joca Corrêa e se mudaram pra beira do rio Grajaú. Papai viaja muito [de canoa], remando, e se agregava na casa de Joca Corrêa.
HM – O senhor conheceu alguém de sobrenome MENDONÇA CHAVES?
MANOEL CHAVES – Conheci. José de Mendonça Chaves. Venceslau, que era filho de Pedro Chaves. HM – Na verdade, nós somos parentes, né? MANOEL CHAVES – É, já longe, mas somos. HM – Tem algum Mendonça Chaves vivo hoje, que o senhor conhece? MANOEL CHAVES – Deve ter, mas eu não conheço.
HM – Seu Máximo Chaves era aquele que fazia versos, não era?
MANOEL CHAVES – Era. Ele era poeta. Ele era rápido. Acontecia uma coisa, ele narrava, em verso. Tinha um verso assim: Os crentes dizem que já viram Jesus/Eu também já vi no Globo, Jesus Gomes, Jesus Gato e Jesus Lobo. HM – Tem alguma coisa dele escrita, algum papel antigo? MANOEL CHAVES – Não, nesse tempo, ninguém se interessava por nada. Ele morreu, nós ainda morava no Arari. Nós mudamos para esta casa, e ficou um baú, que ele botava as coisas dele; baú de cedro, grande, encostado da parede, bem no canto do quarto. Aí, urubu voando afastou a telha, e deu uma goteira bem em cima do baú. Com um mês que eu fui lá, eu vi tudo molhado, tava um pirão. Aí, eu botei fora.
HM – O senhor chegou a ser convocado para a Segunda Guerra? Teve alguém lá do Arari que foi?
MANOEL CHAVES - Sérgio Chaves foi. Ele foi até no Rio. Lá ele tirou serviço 2 (dois) anos. HM – Ele chegou a ir para a Itália? MANOEL CHAVES – Não foi. Ele não foi porque ele era carpinteiro naval, e aí tinha um comandante que tinha uma lancha, precisando de uma reforma, ele viu que ele trabalhava [bem] e embarcou a caderneta dele no navio, que foi pra linha de frente e ele ficou trabalhando na lancha desse comandante, no Rio de Janeiro. Félix Sousa também foi. Filho de Pedro de Mendonça Chaves. Só veio depois da guerra. Aristides, de Liquissi, do Barreiro, também foi, mas ele deu baixa, porque tava casado de novo. HM – Quem que o senhor sabe que foi até a Itália mesmo? MANOEL CHAVES – Foi um irmão de Manoel de Jesus. Não me lembro no nome dele.
HM – O senhor trabalhava com o quê, lá em Arari?
MANOEL CHAVES – Eu era carpinteiro naval. Consertava e fazia lancha, também. Fiz a lancha Ribamar, para o finado Lolico. Eu fui fazer essa lancha no São Gregório, por que era mais fácil encontrar madeira.
HM – Lanchas o senhor conheceu muitas.
MANOEL CHAVES – Olha, com motor a óleo, a primeira que chegou no Arari foi a Estrela do Mar Báltico. Era motor bowling, de 100 cavalos. Depois veio a Santa Rita de Cássia, ou, que seja, chegaram juntas. Aracaty Campos era o dono da empresa. HM – O senhor chegou a consertar essas lanchas? MANOEL CHAVES – Cheguei. Trabalhei em todas elas. HM – Quais eram os problemas que elas davam? MANOEL CHAVES – Às vezes furava uma tábua, uma caverna podre ou uma tábua de anteparo, no convés. Anteparo eram as tábuas que forravam o camarote. Conheci a São Benedito, que foi feita a partir de um batelão, que Aracaty comprou. Estrela da Aurora, Estrela Astréia, Estrela Polar, Estrela Dalva, que era de ferro, e Estrela Branca, que meu irmão, Sérgio, trabalhou. Era carpinteiro. A Estrela do Mar [usava] motor bowling e a São Benedito também botaram um motor bowling, alemão. A Estrela Polar era a maior delas, pegava 2.000 sacos de 60kg. Aracaty foi buscar João Cabral, em Belém, para ser mestre da oficina. Dizendo meu padrinho, Sérgio, (meu irmão), que João Cabral mandava mais do que Aracaty. João Cabral morreu no serviço, aí na empresa. Eles compraram uma madeira, aí na Cachoeira Grande, no Munim. Na lancha Santa Rita. E ele bebeu muita Tequila, lá, e se atirou de cabeça de cima do toldo da lancha. Bateu com a cabeça na pedra, quebrou a espinha. Lolico, finado Lolico, é que era o mestre da lancha.
HM – E quem eram os comandantes dessas lanchas?
MANOEL CHAVES – Da Estrela Polar, era Antonio Fernandes. Tem uma filha dele, Lucília, que ainda tá viva. Ela é casada com um filho do dono da Lusitana. Comandante da Estrela Branca era Nemézio Carvalho. HM – Esses comandantes eram todos do Arari? MANOEL CHAVES – Tudo do Arari. Umbelino, irmão de Antonio Fernandes, era comandante da Estrela do Mar. Lolico era da Santa Rita de Cássia. Ele era sobrinho e afilhado de Antonio Fernandes. Zé Camarão trabalhou na Aurora. Eu quero te narrar um história de Antonio Fernandes. Aracaty quando entregou a lancha pra ele [disse]: - Não espere nem a sua mãe. Aí, Antonio Fernandes viajou para Pedreiras e Aracaty foi com ele. Lá, Antonio foi carregar a lancha e Aracaty foi pro botequm, pra beber. Aracaty perguntou pra ele: - Antonio, que hora é a viagem? Dez horas. Terminaram de carregar a lancha e Antonio ficava olhando pro relógio. Quando deu dez horas, Antonio deu a partida no motor e o imediato disse [a ele]. – Comandante, seu Aracaty ainda não chegou. Ele vai ficar, [disse Antonio]. Já tinha uma carroçal, de Pedreiras para cá, aí Aracaty fretou um Jippe até aqui, em São Luís – HM – réréré Ele disse para não esperar nem a mãe do comandante...réréré MANOEL CHAVES – Aracaty chegou da cor de uma capivara, do barro vermelho. HM – E Aracaty não deu uma bronca em Antonio Fernandes? MANOEL CHAVES – Não, não. Aracaty foi encontrar com ele, aí na praia grande: - Bom dia, seu Aracaty. – Bom dia, Antonio. Tô te esperando aqui pra te dar um abraço [disse Aracaty, por Antonio ter cumprido o horário, como mandado pelo próprio Aracaty].
HM – Onde era o porto no Arari, onde o sr. consertava as lanchas?
MANOEL CHAVES – Era ali, perto da Cotonière (hoje, Hospital).
HM – Caiçara, o Dico Caiçara, era parente de vocês?
MANOEL CHAVES – Ele é meu parente. O pai dele era primo da minha mãe.
HM – Então, seu Manoel, o senhor passou a vida como carpinteiro naval, em Arari. O senhor começou a trabalhar em que ano?
MANOEL CHAVES – Eu comecei em 1944. [Eu vou falando, vai faltando a voz...]
Chega em casa a esposa do seu Manoel. Levanto, abro o portão e ela entra.
MARIA DAS GRAÇAS – Bom dia.
HM – Bom dia. Estou conversando com o seu Manoel sobre Arari. Eu sou filho de Hilton Corrêa. MARIA DAS GRAÇAS – Ah! O senhor que é filho do seu Hilton? HM – A senhora também é de Arari, não? MARIA DAS GRAÇAS – Sou. Meu pai era Alberto Pestana. Eu sou Maria das Graças Pestana, mas chamam só de Dazinha. Meu pai era irmão do Cantídio HM – Cantídio, que chamavam de Namorador? MARIA DAS GRAÇAS – É..rsrsrsr É esse mesmo. HM – Ah! Eu me lembro!
HM – A senhora nasceu eu que ano?
MARIA DAS GRAÇAS – Eu nasci em 1933. HM – Mãe de quantos filhos? Maria das Graças – De sete filhos. A mais velha é Goreth, formada em Pedagogia. Aí vem o Máximo (médico veterinário). Aí vem Maria José, formada em Engenharia Civil; depois, vem Cristiane, que é Veterinária, também; depois, vem Teresa, que é promotora; depois, vem José Alberto, formado em Química Industrial. Depois, vem o Alberto Luís, fez Ciência da Computação.
HM – Quem governava Arari, na sua juventude?
MANOEL CHAVES – Era Antonio Garcia. Passou uns 20 anos. Depois, foi Bembém. Tinha duas Bembém. A Fernandes era mãe de Zezinho da Mata. Então, era Antonio Garcia, Bembém, Tonico Santos, Maria Ribeiro e Cariçara.
MARIA DAS GRAÇAS – E a sua mãe, ainda está no Arari?
HM – Tá. Obrigado [pelo suco que ela trouxe]. A senhora estudou lá no Colégio Arariense?
MARIA DAS GRAÇAS – Estudei. Estudei até a 5ª série. Primeiro o colégio era Instituto Bom Jesus dos Aflitos, depois, criou o Instituto Nossa Senhora das Graças. Nesse tempo, era separado, os meninos estudavam no Bom Jesus dos Aflitos e as meninas no Nossa Senhora das Graças. Depois é que mudou para Colégio Arariense.
HM – A senhora lembra quem eram os professores, nessa época?
MARIA DAS GRAÇAS – Era Tonico Santos, dona Raimunda Ramos. Não me lembro dos outros. Eu ensinei no pré, ali onde era o Jardim de Infância, e, quando eu me casei e fui para a Tresidela, eu lecionava o catecismo, mas na casa de Hildo Santos, que morava perto de Joca Ribeiro, na Rua do Cocal. Depois passei a ensinar na minha casa, e o nome era Centro de Catecismo São José. Por que quando o padre Clodomir chegou, ele fundou um centro de catecismo. Tinha na Igreja, no Perimirim, na Tresidela, lá na casa de Joca Pinto. Dona Raimunda Ramos era quem dava catecismo lá. Eu ensinava o catecismo na igreja.
MANOEL CHAVES – Eu conheci ela no Lago Açu. Eu ia tirar madeira, lá. Álvaro Corrêa tinha uma junta de boi, e puxava a madeira até na beira. HM – E o que a senhora foi fazer no Lago Açu? MARIA DAS GRAÇAS – Eu fui passar férias. HM – Acabou encontrando lá um grande amor... (Risos).
MARIA DAS GRAÇAS – Tu já mostrou o livro para ele, Manoel? Manoel – Não.
HM – Que livro é? MARIA DAS GRAÇAS – É um livro das piadas dele. HM – Dona Maria traz um exemplar e me entrega. A capa contém: MANOEL CHAVES – CONTADOR DE PROSA E FAZER DE BARCOS. Abro o livrinho e leio, em voz alta: Qual a diferença entre o padre e o bule? O padre é um homem de muita fé e o bule é de por café. O riso de todos foi inevitável.
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