Em 2/2/2010 Hilton Mendonça esteve na casa do seu Joaquim e de dona Lusia Santos, e ali entrevistou o casal, e entrevistou, também, Josenir Santos, irmão do ilustre Joaquim.
ENTREVISTA COM JOSENIR ANTONIO DOS SANTOS, JOAQUIM GREGÓRIO DOS SANTOS E COM A DONA LUSIA PEREIRA DOS SANTOS.
II GUERRA MUNDIAL
HM – Seu Joaquim, é verdade que o sr. foi convocado para lutar na II Guerra Mundial?
Joaquim – Sim, é verdade. Eu fui convocado em 1942. Passei 20 dias no quartel daqui, de São Luís, fazendo exames. Eu ia para o Rio e do Rio tinha que ir para a Itália. Mas fui dispensado. Eu fiquei muito zangado, porque queria ir para a guerra. Mas depois que terminou a guerra, e vinham aquelas revistas... aí eu disse: graças a Deus, que eu não fui.
HM – Como foi a sua dispensa da guerra?
Joaquim - Foi por meio de Benedito Mendonça, que era o maestro da banda do exército.
HM – Que outros ararienses foram convocados para lutar na II Guerra?
Joaquim – Foram convocados Eu, Justino Vieira, Balbino (irmão de Manoel de Jesus), Felix Sousa (do Perimirim), Aristides.
Josenir – Sérgio Chaves e Mitinho, de Pantaleão, também foram chamados.
Joaquim - Sérgio Chaves e Justino Vieira ficaram no Rio, mas não embarcaram para a guerra. Foram dispensados também.
HM - Desses convocados, quantos realmente embarcaram para a Itália?
Joaquim- Foram o Balbino [Balbino Azevedo Costa, irmão de Manoel de Jesus Costa] e o Felix. O Balbino foi baleado, de raspão, na cabeça. Depois da guerra, ele foi para São Paulo; chegou a ser chefe da estiva lá.
Dona Lusia - Mas ele voltou para Arari e se casou com uma filha de Du Bem. Lá é que ele morreu, em Arari. Não sei se ele teve filho com essa menina.
Josenir - Teve um que foi convocado, mas cortou o dedo para não ir pra guerra.
HM - Quem foi?
Joaquim - Foi o Dedo no Gatilho. Cortou o dedo da mão direita (risos).
LÉLIS SANTOS
HM - Vocês sabem quem são esses dois que aparecem nesta foto com Lélis?
Joaquim - Não sabemos.
HM – E essas casas que aparecem nessa foto, a quem pertenciam?
Joaquim - Essa casa (a primeira, à esquerda) era de Herculano, que ficava de canto, na praça. Nela morou Benedito Ericeira, casado com Cota.
Josenir - Depois de Herculano, morava Cidoca, filha de dona Corina.
HM - Nessa foto, aparecem o senhor e o Lélis. Como era o nome completo dele?
Dona Lusia – Raimundo Lélis dos Santos.
Joaquim - Isso é 64, ano em que ele morreu.
HM - Qual era a doença do Lélis e onde foi enterrado?
Joaquim - Ele sofria de Leucemia. Tinha 23 anos. Faltava um ano para se formar, em Agronomia, quando morreu. Ele estudava em Belém-PA.
Dona Lusia – Ele foi enterrado aqui, em São Luís, no cemitério Gavião.
LANCHAS
HM – No rio Mearim, na eram muitas as embarcações que por ele navegavam, e muitos ararienses trabalharam nelas. Quais embarcações o senhor sabe que navegavam por esse rio?
Joaquim – A maioria das lanchas e batelões que circulava no rio Mearim pertencia à Empresa de Navegação São Luís, de propriedade de Aracaty Campos.
Dona Lusia – Essa empresa era muito rica; ela tinha 40 embarcações, entre lanchas e batelões.
Joaquim - Na época, era essa empresa que fazia os correios; tinha um marinheiro responsável só por guardar as malas, na lancha, e entregá-las no Arari, e em outros municípios do Mearim, Pandaré, Cajapió. Mas tinha os dias certos de transportar essas malas: era dia 7, 17 e 27.
Dona Lusia - Dia 11, 21 e 31.
Joaquim - Eles tinham um contrato com o Governo Federal...
Dona Lusia - Foi com essa empresa que o pessoal de Arari teve seus primeiros empregos de marítimo. Os rapazes iam crescendo, e já ia se empregando nas lanchas.
Joaquim - 90% dos marítimos era de Arari. Tinha muitos marinheiros que não sabiam assinar o nome. Tinha viagem de ter 100, 110 pessoas, em viagem daqui para Pedreiras. Em todos esses portos tinha passageiros. Na volta, era a mesma coisa.
HM - Que lanchas essa empresa possuía?
Joaquim – Tinha a Estrela Astreia, Estrela Dalva(era uma lancha baixinha), a Estrela do Mar, a Estrela da Aurora, a Estrela Polar, Estrela Branca, e outras.
HM – Em quais embarcações o sr. trabalhou?
Joaquim - Eu comecei na Estrela Astreia, como servente. Essa lancha pertencia à empresa de navegação São Luís, de Aracaty Campos. Aracaty Campos era o dono dessa empresa (ele fumava charuto importado!); ele era do Rio ou de São Paulo, não me lembro bem.
Dona Lusia - Quando elas passavam lá na beira do rio, no Perimirim, a gente via a lancha repleta de redes.
Joaquim - Foi no primeiro governo de Sarney que ele começou a abrir estradas para toda parte da baixada, que não tinha nada de estrada...
Dona Lusia – Aí, foi diminuindo a navegação.
HM - Dessas lanchas do empresário Aracaty Campos, quais tinham um e quais tinham dois toldos?
Dona Lusia – A Estrela Astreia, Estrela Aurora, Estrela Branca, Estrela Polar tinham dois toldos; a Estrela Dalva era baixinha, de um toldo só; e a Estrela do Mar tinha um toldo e meio.
ECLIPSE
Josenir, para Joaquim: Conta aí aquela história do eclipse, que teve lá no Arari.
Joaquim - O Manoel de Jesus morava lá em casa, e, quando veio o eclipse ele, com muito medo, caiu naquela escada lá de casa e dizia: “Eu vou morrer, papai. Eu vou morrer, papai”. Isso levou foi horas! Tu te lembras, Luisa?
Dona Lusia – Me lembro! Eu tava no colégio. Eu era muito pequena; devia estar com meus 10 anos. Foi escurecendo aos poucos; umas nove horas, mais ou menos, parou de vez... A gente botava bacia d’água, lá no colégio... aí, a gente via a lua passando por cima da sol.
HM – Em que ano foi esse eclipse?
Dona Lusia - Acho que foi por volta de 1938 ou 1940.
Josenir – Escureceu tudo; o sol sumiu; foi preciso acender lamparina. Aí, mamãe dizia: “bate em lata para não matar as plantas, meus filhos!”. De dia, ficou tudo escuro. As criações subiram todas para os poleiros.
HM - Esse Manoel de Jesus que morava lá, na casa de vocês, era de cor negra?
Joaquim – Era. Ele foi morar lá em casa. Era aprendiz de carpinteiro e se considerava irmão da gente. Chamava papai de pai.
Dona Lusia – Ele é pai de José Raimundo.
HM – E de José Maria Santos, que estudou comigo, no Colégio Arariense.
ANTONIO, PROFESSOR.
HM - Quem foram os aprendizes de carpinteiro que seu pai ensinou?
Joaquim – Ele ensinou Pedro Charuto, Manoel de Jesus, Zé Lopes, Neuzo, Norberto, Joaquim Ribeiro. Manoel de Jesus e Pedro Charuto moraram conosco.
HM – Quem era esse Ribeiro?
Dona Lusia - O pai dele era irmão de Lucas Ribeiro, que era avô de Nezico.
Josenir – Tinha outro Ribeiro, que morava na beira do Igarapé.
HM - Então, o sr. Antonio Santos teve um papel importante na formação profissional de muitos ararienses.
Joaquim - Teve. Meu pai era carpinteiro e marceneiro de mão cheia. Quando terminava um serviço, já tinha outro. O cassino de Manoel Abas foi papai quem construiu. Ele trabalhou muito tempo para Pedro Saraiva, fazendo carro-de-boi. Ele também fazia casa e assoalho.
HM – Pedro Saraiva era o pai de Clemente Muniz, meu avô. Fiz uma entrevista com dona Maria José, que mora em Salvador, filha dele com dona Raimunda.
Josenir - Mundica Ribeiro é que era a mãe de Maria José. Chamava Dica Caturro, por que ela era baixinha. Ela é que tomava conta de tudo, na casa de Pedro Saraiva; havia diversos galinheiros lá no pátio; de manhã ela ia coletar os ovos, enrrolar em folha de bananeira, para mandar para São Luís.
Joaquim - Papai ainda tocou na festa de Manoel Abas.
HM – Ele tocava o quê?
Joaquim - Tocava clarinete, quando era novo, quando era rapaz. Papai também foi prefeito... Ele assumiu por uns 6 meses, em substituição a Pemba, se não me engano; ele era vereador.
HM - Quantos filhos seu Antonio teve?
Joaquim - Onze. Ainda tem 6 filhos vivos. Zizi, Rosa, Zezé, Aldenira, Joaquim e Josenir.
A mais velha era Tunica, mulher de Neuzo. Papai trabalhou muito para criar 11 filhos.
HM – E quantos filhos o senhor tem?
Joaquim - Tenho 5.
HM - E tu, Josenir, tens quantos filhos?
Josenir esboça um sorriso, vira a cabeça, e nada responde. Eu repito a pergunta.
E tu, Josenir, tiveste quantos filhos? Ele ri de novo, fica desconsertado, e eu modifico a pergunta: não tiveste filhos?
Josenir declara – Tive dezoito filhos.
Dezoito filhos!!!!!, exclamo eu, e digo: Josenir, tu bateste o recorde.
Todos riem...
HM - Essa foto aqui foi batida por José Ribeiro, que era chamado de Zé Padre.
Dona Lusia – Zé padre é irmão de Rui, que trabalhava nos correios.
A primeira casa era de Jorge Cominho, a segunda, de Luís Ribeiro, a terceira de Antonio Garcia, a quarta, de Abrão Salomão, a quinta, de Zezinho Ourives e a sexta, era a capitania. A casa de esquina, a primeira, depois da praça, era de Herculano Ericeira, pai de Milton Ericeira (Hoje, casa de dona Cota Ericeira).
PAIOL
HM – Nessas viagens de lancha, vocês estiveram no Paiol, onde morava meu avô Clemente Muniz?
Josenir - Eu conhecia muito aquilo ali. Ia pra lá de lancha e de cavalo. Antoninho Oliveira, que tinha engenho, comprou uma caldeira, de segunda mão, do tio Lió. E tio Lió comprou outra, nova. Eu me hospedava na casa de dona Adélia, que era vizinha do seu Clemente. Cadê Duca? (Filho do seu Clemente).
HM - Duca mora em aqui, no Anjo da Guarda.
Josenir – Ele passou uma temporada comigo, lá no Pindaré, na década de 1950, depois de uma confusão que aconteceu com ele, lá no Paiol...
HM – Vocês ficaram no Arari até que ano?
Joaquim - Faz 51 anos que eu saí de Arari.
Josenir- Eu e Chiquinho fomos morar no Pindaré.
HM - Essa aqui é a foto do engenho de Lió Pinto.
Josenir – Eu trabalhei lá, no engenho; eu e Joãozinho. Chiquinho também trabalhou. Pra cá havia um pátio grande, que era usado para espalhar o bagaço da cana.
HM-Agradeço muito ao sr. Joaquim Santos, à dona Lulu(Lusia) e ao Josenir, por esta entrevista que me concederam, e informo que ela será de grande valia para ararienses de hoje e de amanhã.
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