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B. Anastácio
B. Anastácio

TRECHOS DA MATÉRIA, DE AUTORIA DE DINACY CORRÊA, PUBLICADA NA PÁG. 8 DO JORNAL PEQUENO DE 12/3/2005, SOBRE BENEDITO ANASTÁCIO OLIVEIRA DUTRA, EX-INTERNO DO PADRE CLODOMIR BRANDT SILVA.

HILTON MENDONÇA DEU À MATÉRIA A FORMA DE ENTREVISTA, NOS TERMOS SEGUINTES, MANTENDO A ORIGINALIDADE DO CONTEÚDO.

  

Dinacy Corrêa – Natural de Anajatuba-MA (1946), caçula de 13 irmãos, Benedito Anastácio Oliveira Dutra, filho de Pedro e de Raimunda Oliveira Dutra, mudou-se para o Manoel João, Município de Arari, em 1951, com a família, onde teve a infância marcada por um incessante caminhar, num ir e vir... seguir pela estrada. O iluminado de quem estamos falando expõe para nós sua trajetória.

 

Anastácio – Foi em 1956, no dia 14 de fevereiro. Eu, com 10 anos, tinha ido pra Arari estudar no Colégio do Padre. Fiquei hospedado na Rua Nova, na casa de dona Josefa (mãe de Zé Bacurau e sogra do seu irmão, Valentim). Foi quando o padre precisou de um coroinha-sacristão e me chamou. Damásio (Damásio Rafael Santos) tinha vindo aqui para São Luís estudar no Seminário Santo Antonio. O Padre, que já conhecia meus familiares, sempre fiéis às Missas dos domingos, pediu para eu ser coroinha e sacristão. Minha família, muito católica, permitiu. Como ficava longe de onde eu morava até a Igreja matriz, e eu tinha que acordar cedo, pra tocar o sino, ajudar na Missa, limpar a igreja, essas coisas, ele quis que eu fosse morar na casa dele, no internato. E assim foi.

 

Dinacy Corrêa – E assim se passaram dez anos... Nele, o Pe. Brandt confiava. E nele idealizava um continuador do seu trabalho. Anastácio que, de aprendiz de tipógrafo, passou a instrutor, depois a diretor da Escola de Artes Gráficas, a diretor do Internato, que também foi: locutor dos Serviços de Auto Falante Voz de Arari, projetor de filmes no Cine Paroquial, atuante no Teatro Experimental de Arari, orador do Ginásio Arariense (nas aulas de oratória, onde declamava, de memória, longos poemas de Gonçalves Dias, como Y-Juca-Pirama), professor do Ensino Fundamental (Instituto Nossa Senhora das Graças) e mais tarde de português, do Ginásio Arariense (em substituição ao Padre), era uma grande esperança nos sonhos do velho pároco.

 

Anastácio – Ele [pe. Clodomir] queria que eu fosse padre, mas eu não podia; eu não tinha vocação e temia falhar, principalmente nos votos de castidade. Não queria ser um padre hipócrita. Na última vez que o vi, ele já muito doente me disse: “É, seu Anastácio, você não quis ficar, me continuar, tomar conta disto tudo aqui, que eu sei, pode se acabar depois que eu morrer”. E eu fiquei desolado, até mesmo com remorso. Confesso que chorei... Eu amava o Padre. Ele foi para mim um Mestre e o Pai que eu, por bem dizer, não tive, pois o perdi muito cedo, aos cinco anos. Aliás, em Arari, me chamavam de ‘o filho do padre’.

 

Dinacy Corrêa – Esse moço não poderia mesmo ser padre... Em Arari, quem não se lembra? O menino foi ficando aquele rapaz... (que o digam as garotas da época...). E, no auge da adolescência, dos 18 aos 21 anos, começou a participar, ativa e alegremente, dos bailes de carnaval no Cassino de Manoel Abas, e dos, digamos, mais românticos, da temporada das festas da Graça e de Bom-Jesus, numa variedade de tipos e gêneros, que, a propósito, nos faz lembrar o espírito classista da sociedade arariense da época. (...) Vão pintando as muitas namoradas... Até que surge Concita (Maria da Conceição Carneiro), na parada, e ele não resiste. Casa com a moça, em 28 de fevereiro de 1967, dando adeus ao internato, à Gráfica, ao Colégio, à casa do Padre e até a Arari, cortando o coração do velho pároco. Fazer o quê? Agora estava casado e era preciso ganhar a vida. E ele vem para a capital, a princípio sozinho, deixando em Arari, na casa da sogra, a mulher grávida... Em 1969, já com 22 anos, estabelece-se, definitivamente, em São Luís, com a família. (...) Residente, há muitos anos, na Cohab, [é] pai de dez filhos.

 

Anastácio – Devo ao pe. Brandt tudo o que sou. A ele devo a minha educação, minha formação (profissional, moral, espiritual e cultural), meus princípios... Naquele seu regime espartano de educar, aprendi a ter disciplina, a amar e dignificar o trabalho que me dignifica, a ter organização, a ser responsável, a ter compromisso com tudo em que me empenho... E a permanecer firma na fé que herdei da minha família genética, e que fui sedimentando, cada vez mais, na convivência salutar com o Padre, meu grande referencial de vida.

 

Dinacy Corrêa – No colégio do Padre, no antigo primário, sua primeira professora foi dona Raimunda Ramos, admirável e inesquecível mestra, excelente educadora!

 

Anastácio – Com ela, aprendi muito, muita coisa. Tanto pela sua ação magisterial, como pelo edificante exemplo de vida que ela sempre foi.

 

Dinacy Corrêa – Do ginásio, ele lembra, homenageando, os professores: José Pereira e Capitão Avelar (de português), Tonico Santos (de Ciências), Marise Ericeira (de Geografia), Dr. João Lima (de Inglês e Biologia), Pe. Brandt (de Francês e  Religião), Raimunda Ramos (de Literatura), José Ericeira, Éden Soares e Conci Fernandes (de Matemática, Física e Química), Diquinha Marques (de História), dentre outros.

 

Anastácio – No internato, tínhamos uma vida comunitária pautada na organização, obediência e disciplina. Acordávamos às 5h30min da manhã e saíamos (de calção e chinelos, com toalha e sabonete), para tomar banho no rio (não havia sistema de águas e esgoto na cidade). Voltávamos, eu me vestia e corria pra abrir a igreja, tocar o sino, limpar tudo preparar o altar... Aprendi a badalar o sino com o velho Baúna (sineiro e jornaleiro), nos mais variados repiques, conforme a ocasião. Às oito, tomávamos o café, no refeitório, em companhia do padre. Era tudo muito simples, mas muito solene. Começávamos com a oração, de joelhos, precedida de leitura bíblica, finalizando com os cânticos (já de pé). Depois eu ia pra Escola de Artes Gráficas Belarmino de Matos, que ficava no quintal do padre.

 

Dinacy Corrêa – A Escola de Artes Gráficas Belarmino de Matos, que lhe descortinou o horizonte profissional, merece um capítulo especial, no resgate da memória da educação e da cultura arariense. Basta lembrar que essa foi a primeira escola do gênero, aqui no Maranhão, num tempo em que a Galáxia de Guttemberg ainda reinava absoluta. Ali, o aprendizado seguia uma linha dedutiva, partindo do geral para o particular, da teoria para a prática.

 

Anastácio – Primeiro, tínhamos as aulas teóricas com Dona Raimunda Ramos, Dona Laís e Dona Conci (Conceição de Maria Fernandes, professora e secretária do Colégio Arariense). Depois, vinham as aulas práticas, com Zé Raimundo, Osmar (criador do ‘Cabeça do Grilo’ – cabaré e radiola – em Arari) e Durval Cruz, (hoje professor universitário aposentado). (...) Nas aulas práticas, os discípulos, além do curso de encadernação, aprendiam a reproduzir, com os tipos móveis, os textos, sempre manuscritos, dos articulistas e colaboradores do Jornal (e como sofriam aqueles aprendizes de tipógrafos, no desafio de decifrar caligrafia indecifráveis! Boa de ler, diziam, era a letra de Maria Araújo – então aluno do Colégio Arariense e ao mesmo tempo professora, ali mesmo, nas classes do Ensino Fundamental, repórter e chefe de redação do Notícias, por algum tempo). (...) O Boletim Paroquial (primeiro veículo de comunicação gráfica da cidade) e o Jornal Notícias (que substituiu o BP) eram semanários, porque, como aprendizes, tínhamos que ter, no mínimo, uma semana para compor, em tipos móveis, todo o conteúdo do jornal. Sem contar que todo o material de expediente do Colégio e dos demais órgãos da ADC (Associação da Doutrina Cristã), com seus quatro secretariados (Educação, Cultura, Catequese e Assistência), era impresso ali.

 

Dinacy Corrêa – Em 92, assume interinamente a presidência do Sindicato dos Gráficos, de São Luís, indo, em seguida, para o Diário Oficial do Município, levado pelo amigo vitoriense Waldair Costa (o Antonio Francisco, de quem Arari jamais esquece; ele que tanto empolgou o arariense dos anos 60/70 com sua coluna jornalística e seu programa de auto-falante Arari não pode parar), para editar o livro Maria Aragão – a razão de uma vida. No triênio 98 a 2000, como sindicalista, foi vice-presidente da Fetiema.

 

Anastácio – Durante esse tempo (cinco anos), escrevi muito no Jornal Pequeno, pois era muito amigo do seu Bogéa, a quem mandava semanalmente um artigo.