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Maria José (SARAIVA)
Maria José (SARAIVA)

ENTREVISTA COM DONA MARIA JOSÉ (SARAIVA) FERNANDES COSTA, FEITA POR HILTON MENDONÇA, EM OUTUBRO/2009.

HM - De quem a senhora é filha, quando nasceu, onde a sua família morava em Arari e qual a ocupação dos seus pais?

Mª JOSÉ - Sou filha natural de Pedro de Lima Saraiva e Raimunda Paula Fernandes. Nasci em 19 de novembro de 1925, na cidade de Arari. Minha mãe morava em uma casa pequena em frente às casas de Mundica Gusmão, de Vineca e de Oscar Santos (não sei o nome dessa rua). Na rua atás fica a casa do Sr. Lucas Ribeiro que era irmão do marido de minha mãe (mãe Dica, como eu a chamava). Os filho de mãe Dica com este Sr. Ribeiro foram: Maria, Elvira, Antonio e Bidica. De Maria, que era casada com Egídio, nasceram: José - mora em São Luís, Francisco (Chico), Antonio - estes dois têm casa de comércio na Rua da Rodoviária; Antonia (solteira) e Joaquim, que mora com a família em Aracaju. Elvira era casada com um marinheiro, morava no Rio e não tiveram filhos. Antonio Ribeiro era casado com Florinda Santos e moravam ali do lado da Cotoniere, tiveram 10 filhos. Bidica era casada com Manoel Vale (Mano), os filhos deles: Deoclécio e Conceição (falecidos), Maria José que tem problemas mentais, mora com os sobrinhos, filhos de Deoclécio.

Depois de viúva é que mãe Dica foi trabalhar na Casa de Engenho de Pedro Saraiva, como cozinheira. Aí então é que eu, Maria José cheguei, quer dizer, nasci. Quando nasci, D. Gaída (Aquela mulher maravilhosa a quem eu chamava de mamãe), esposa de Pedro Saraiva, foi visitar a cozinheira, quando voltou, conversando com o marido, ele acabou confessando que aquela menina era filha dele. Aí então, decidida a me criar, D. Gaída foi me buscar. Assim eu fui criada com todo amor, carinho e atenção por ela, minhas duas mães e meu irmão. Mas para completar a generosidade de D. Gaída, mãe Dica continuou trabalhando na Casa de Engenho e morando noutra casa, mais perto do trabalho. Quando papai vendeu o Engenho para o Sr. Cipriano dos Santos, em 1947, mãe Dica ainda ficou trabalhando lá, mas depois foi morar com a filha Bidica, onde veio a falecer, em 1973.

Papai e mamãe Gaída faleceram em São Luiz, na casa de Mazolina, em 1949. Aí eu já estava em Campinas (no convento). Não pude vir ao enterro dos dois, que curiosamente faleceram no mesmo mês, nos dias 17 e 29 de agosto.

HM - Onde fez os primeiros estudos e até quando viveu em Arari?

Mª JOSÉ - Meus primeiros estudos - curso primário fiz em Arari, uma parte no Perimirim e a outra com D. Diquinha Nunes, na casa dela, ali na Rua Grande. Vivi no Arari até o ano de 1939, depois fui estudar em São Luiz. Fiz o ginásio 1º e 2º ano, no Colégio Rosa Castro, 3º e 4º ano, no Colégio Santa Tereza; o Comercial no Centro Caixeral.

HM - Quem eram as pessoas mais importantes que a senhora lembra (prefeito, Delegado, Comerciante, Padre, Fazendeiro, Jogador de Futebol etc) do Arari?

Mª JOSÉ - As pessoas mais importantes que eu conheci foram: PREFEITOS: Antonio Garcia, Justina Fernandes (Bembem) e Tonico Santos, este último ainda vivo e mora em São Luis; DELEGADO: Custódio Bogéa (marido de Rogaciana); DONO DE FARMÁCIA: Manoel Leite; JUIZ: Tiago Fernandes (vulgo Carrapatinho); CORREIO: José Moreira (Telegrafista); FAZENDEIROS: Lucas Ribeiro, Pedro Saraiva e Leandro Nunes; COMERCIANTES: Sr. Jorge Cominho e Abrão Salomão, na Rua Grande; Teodoro Batalha, no Perimirim; PADRE: Clodomir Brandt; ENFERMEIRO: Jorge Oliveira; MÚSICO: José Martins; DONOS DE ENGENHO: Pedro Saraiva, Leó, na Trizidela e Ladislau, na Rabela; HOMEOPATA: Nicolau e Luciano; CURANDEIRO: Pedrinho da Silva; COMANDANTE DE LANCHA: Antonio Fernandes, Joca Mosinho e Albino Fernandes.

HM - Quais os nomes de alguns dos seus amigos/amigas daquela época? Eles têm algum filho vivo?

Mª JOSÉ - As minhas amigas daquela época: Jamile Salomão (filha de Jorge Cominho, mudou-se para o Rio); Ester Salomão, filha de Abrão Salomão (não se casou; foi para o convento, depois saiu e foi morar em São Luiz com os pais, já que estavam morando lá. Esta Ester já veio aqui em Salvador para um congresso e ficou uns dias aqui em casa. Tinha Ilneth, filha de José Fernandes (irmão de mamãe Gaída), que se mudou para Brasília. Jaime Fernandes, filho de Melquíades Fernandes, que também mudou-se para Brasília. Janoca Salomão sempre morou em Arari, não se casou e já faleceu. Também tinha Elias Salomão (irmão de Ester), que mudou-se para o Rio e já faleceu. Tonico Santos (ex-prefeito) está morando em São Luiz e tem um filho que é cantor (Zeca Baleiro). Magnólia, filha de Sérgio Lima e Maria Ozana, não casou, já veio aqui em Salvador passar uns dias comigo. Mora em Brasília.

HM - Onde se localizavam a igreja, a prefeitura e a cadeia de Arari?

Mª JOSÉ - Igreja Matriz - Igreja Santa Luzia, no bairro do mesmo nome - Igreja de Sant'Ana no Perimirim. A cadeia e a prefeitura eu não me lembro onde eram.

HM - Quais eram os festejos existentes na Arari da sua época e quais as principais ruas que existiam em Arari?

Mª JOSÉ - Festejos: Festa de Nossa Senhora das Graças, em agosto - Festa de Bom Jesus e de São Benedito, em Setembro e Festa de Santa Luzia; Festa de Sant'Ana no Perimirim. Festa do Divino, as Pastorais e Baile de São Gonçalo. Naquele tempo, não se conheciam as ruas pelo nome, era Rua da Cotoniere ou Rua do Seu Tiago, etc.

HM - Quais os atos de violência entre os habitantes que a senhora lembra?

Mª JOSÉ - Atos de violência propriamente eu não me lembro, mas vou contar um caso. Antes dessa ponte do Igarapé, aí do Perimirim, lá para traz, conta-se que morava uma velhinha de nome "Maria sem dono". Contavam que ela virava uma porca que atacava as pessoas à noite. Então, rapazes que vinham para namorar, na volta para o Perimirim, eram atacados por ela. Um dia eles combinaram de vir juntos. Nesse dia, quando a porca atacou, eles deram uma facada nela e no dia seguinte a velha amanheceu muito doente com uma facada. Não sei até que ponto isso é verdade, mas que contam, contam.

Lá vai outra história - Ali bem adiante da Rua Grande, morava um senhor de nome Pio, ele era feiticeiro. Ele contava que quando via uma moça bonita e se ele a desejasse, ela ficava enfeitiçada e ia morar com ele. Dizia ele que a moça olhava para ele e via um moço muito bonito. Esse eu conheci e por causa dessas histórias eu tinha muito medo dele.

HM - Quem eram as pessoas mais instruídas da cidade? Circulava algum jornal em Arari? Alguém publicou algum livro ou revista em Arari, no período em que a senhora lá viveu?

Mª JOSÉ - Na Rua Grande, do lado da Igeja Matriz, morava o Sr. Herculano, cujo filho formou-se em medicina - Dr. Milton. Assim como ele, todos os filhos de Arari que buscaram instrução fora, depois de formados nunca voltaram para morar e exercer a profissão ali. Quanto a jornal, que me lembro, não circulava nenhum de origem arariense. O mesmo se dá para os livros, pois só conheço este do José Fernandes - Gente e Coisas da Minha Terra.

HM - Que nomes de embarcações a senhora se lembra?

Mª JOSÉ - As embarcações daquele tempo que eu me lembro são: Vapor São Pedro e Vapor Barão. As lanchas grandes são: Aurora, Estrela do Mar e Cruzeiro, que chegavam no Arari vindas de São Luiz, nos dias 07, 17 e 27 de cada mês. Era muito divertido, no início do ano, quando os estudantes voltavam para as aulas. Vinham de Bacabal, Pedreiras, Barra do Corda, etc. Eram três dias de viagem do Arari a São Luiz. As outras lanchas pequenas eu não me lembro dos nomes.

HM - A foto da Rua Grande, feita em 1936 [foto da capa do livro Ressonância de Ecos], traz alguma lembrança para a senhora? A igreja que ali aparece foi frequentada pela senhora? Onde assistia às missas? Que outras lembranças do Arari a senhora gostaria de registrar?

Mª JOSÉ - A foto da Rua Grande, de 1936, me lembra a casa da minha professora D. Diquinha Nunes, onde frequentei aulas durante um ano. Lembro-me dos dias que eu ia passear na casa de minha amiga Jamile, quando ia fazer comprar na casa do Sr. Abrão. Frequentei a igreja que aparece na foto não só quando ainda morava no Arari, mas também, nas vezes em que retornei a cidade. A última vez foi em 1989, com meu marido Daniel. Tenho saudades.

Também me lembro, com muita saudade dos banhos no rio, andar de canoa e remar. Andar a cavalo. Ia a cavalo para o nosso engenho lá no Barreiro ou então para a casa da minha avó (mãe de papai, mãe Tonica), lá no Mantible, que não sei se ainda tem esse nome. No inverno, íamos de canoa porque os campos ficavam cheios de água. Por agora, são essas as minhas lembranças de minha terra querida.

Salvador, 30/09/2009.   Maria José (Saraiva) Fernandes da Costa.