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O que ELES disseram
O que ELES disseram

Marcelo Gleiser é um intelectual brasileiro, professor de física teórica em Hanove, EUA. Na matéria intitulada Sobre a vida após a morte, publicada na coluna que ele mantém no jornal Folha de São Paulo, o eminente escritor assegura:

"Já que no domingo passado escrevi sobre o fim do mundo (era para ter sido ontem), é natural continuar a discussão refletindo sobre vida após a morte. Especialmente nesta semana, quando o famoso físico Stephen Hawking falou do assunto em entrevista ao jornal inglês "The Guardian".

"Um conto de fadas para pessoas que têm medo de escuro", disse. Mantendo a discussão ao nível "científico", o que podemos falar sobre experimentos que visam detectar vida após a morte?

(...)

De volta a Hawking, devo dizer que concordo com ele. Tudo o que sabemos sobre como a natureza opera indica que a vida é um fenômeno bioquímico emergente que tem um início e um fim.

Do ponto de vista científico, vida após a morte não faz sentido: existe a vida, um estado complexo da matéria em que um organismo interage ativamente com o ambiente, e existe a morte, um estado em que essas interações tornam-se passivas. (Mesmo o vírus só pode ser considerado vivo dentro de uma célula anfitriã).

É perfeitamente compreensível querer mais do que alguma décadas de vida, ter esperança de que exista algo mais.

Porém, nosso foco deve ser no aqui e no agora, e não no além. O que importa é o que fazemos com a vida que temos, curta que seja. Após ela, o que persiste são as memórias naqueles que continuam vivos. Marcelo Gleiser.

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No texto O sentido universal da Páscoa judaica, o historiador Jaime Pinsky cita uma das mentiras da bíblia: o êxodo, que nunca aconteceu, na verdade. Eis alguns trechos da matéria, publicada em 29/3/2010, Folha de S. Paulo, A3:

O calendário registra nesta semana a Páscoa dos judeus e a dos cristãos. Ambas as comemorações tiveram a mesma origem, afastaram-se e negaram-se ao longo da história e tendem a aproximar-se novamente.

O reconhecimento da origem judaica de Jesus, agora um fato religioso indiscutível, diminuiu bastante o número daqueles que apregoavam distância e até hostilidade entre os seguidores das duas religiões.

(...)

Os judeus fazem hoje à noite uma ceia de Pessach, e tradicionalmente se diz que ela registra "a saída dos judeus do Egito", comandados por Moisés, há uns 35 séculos.

Entretanto, não foram encontradas evidências da ida ou mesmo da presença do povo hebreu no Egito, nesse período, mesmo porque ainda não havia um povo hebreu. É difícil, portanto, falar de sua saída.

Com certeza poderíamos considerar a travessia (do Egito para a Terra Prometida, da escravidão para a liberdade) um mito de criação, desses que todos os povos, nações, religiões e etnias têm.

Claro que havia um grande movimento de povos do deserto do grande oásis que era o Egito, irrigado e fertilizado pelo Nilo. (...)

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O médico e mestre em psiquiatria PLÍNIO MONTAGNA escreveu o artigo Os próximos 100 anos, no jornal Folha de São Paulo do dia 31/3/2010(A3). Dessa matéria, transcrevo as seguintes partes:

(...)

Em outras palavras, somos capazes hoje de lidar com fenômenos bem além do horizonte a que o gênio Freud chegou.  Se ele nos deixou a abertura de quase todos os caminhos, foram precisos novos ângulos, novas óticas para trilhá-los.

Montada em seus ombros, a psicanálise está mais bem equipada para tratar complexidades do humano correspondentes à realidade atual. Temos mais condições para lidar com os sofrimentos contemporâneos, o vazio mental, os distúrbios na esfera do limite mente-corpo, as ambiguidades e tibiezas de fronteiras e limites do si mesmo, as especificidade de ansiedade e depressões etc.

O conhecimento pessoal que uma análise pode propiciar não tem paralelo com nenhuma outra atividade humana.  Num mundo que tende a dissociar emoção e razão, a apreensão e a apropriação do modo de estar no mundo é fundamentalmente desalienante. O contato real com as próprias experiências emocionais é impar.

A psicanálise descortina o virtual de cada um, a serviço do ser, de sua humanidade. Não há dúvida de que psicofármacos, terapias cognitivas e outras têm a sua potência. Mas mudança psíquica, de fato, é apanágio da psicanálise, campo único da pesquisa da subjetividade radical, da singularidade de cada um.

(....) 

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COLUNA DO EMINENTE PASQUALE CIPRO NETO, intitulada Desejos (rabugentos) de fim de ano (Folha de S. Paulo,  31/12/2009, C2).

Já devo ter dito neste espaço (mais de uma vez) que, não fosse pelo aniversário de minha mãe, o 31 de dezembro seria apenas mais um dia, como qualquer outro. Não acredito - nem um pouco, um pouquinho que seja - nessa coisa de virada de ano, show da virada, arros com lentilhas, roupa branca etc.

Bem, se alguém me dissesse que a virada do ano poderia trazer a concretização de alguns pedidos, eu até me atreveria a fazer os meus. Rabugento que sou, ousaria pedir aos céus que o ano novo trouxesse, por exemplo, o fim das perguntas inúteis e da distorção do que se diz.

Quer um belo exemplo de pergunta inútil? Você está dentro do elevador (...) e a criatura que está do lado de fora faz uma das seguintes perguntas (irritantes e inúteis): "Tá subindo?"; "Tá descendo?" Detalhe: do lado de fora, há setas luminosas do sentido do elevador. Bastava ver o que indica a seta acesa para evitar a pergunta. É bom dizer que essa seta é um signo (não verbal, no caso), ou seja, um elemento que carrega um significado, assim como a imagem de um cigarro aceso cortado por uma linha oblíqua (que significa "Proibido fumar") (...)

Bem, voltando ao caso do elevador, (...) o cidadão dá outra demonstração de dificuldade para lidar com esses signos. Traduzo: em muitos painéis externos, ao lado da(s) porta(s) dos elevadores, há dois botões: uma para "chamar" para subir; outro, para descer. A maioria aperta os dois, independentemente do sentido desejado. O resultado, é claro, é perda de tempo, de dinheiro, de energia elétrica, desgaste das peças do elevador etc. (...)

Temos aí apenas um dos exemplos das dificuldades que muitas pessoas têm para captar a mensagem dos signos não verbais. Quer mais um? Vamos para o mais do que subdesenvolvido trânsito brasileiro e seus incríveis motoristas, incapazes de decifrar o significado de uma rotatória. Em todos os países que conheço (e não são poucos), os motoristas sabem que tem preferência quem já está na rotatória (e dão essa preferência). Por aqui... Haja analfabetismo e subdesenvolvimento! (...)

Quer outra pergunta inútil? Fui fazer exame de sangue, e a atendente me fez a irritante pergunta:"Está em jejum?". A pergunta dela me faz supor que ou há mentecaptos que, sem estarem em jejum, vão a laboratório para fazer certos exames de sangue que requerem jejum ou há médicos incompetentes que não informam aos pacientes que determinados exames requerem jejum.

É por essas e outras que dou de ombros quando ouço ou leio coisas relativas ao mundo de hoje, em que a informação é isto ou aquilo. Se muita gente não consegue nem traduzir um signo corriqueiro ou não consegue absorver informações básicas, que mundo da informação é esse? Feliz ano novo, caro leitor. É isso.

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Parte da entrevista com a psicóloga social, SANDRA JOVCHELOVITCH, que pesquisa a esfera pública e a representação social, no Brasil (Folha de S. Paulo, 7/12/2009, A17).

Folha - Como explicar a recorrência de episódios de corrupção no Brasil, como o recente escândalo envolvendo o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda?

Sandra - A corrupção no Brasil é um problema sistêmico. Ela se alicerça em avatares muito profundos da nossa cultura, o que explica a recorrência dos escândalos e a nossa incapacidade histórica em lidar institucionalmente com eles. Isso está vinculado a uma autointerpretação do brasileiro de que nós somos um povo corrupto, de que a corrupção está na constituição do nosso corpo político e social.

O marechal Floriano Peixoto expressou essa ideia muito bem quando convocou o exército a invadir Canudos. Ele disse: "Como um liberal que sou, eu não posso desejar para o meu país o governo da espada. Mas esse é um governo que sabe como purificar o sangue do corpo social, que, como o nosso próprio, é corrupto!". Essa ideia de sangue corrupto, da natureza corrupta - que a antropologia chama de "mal de origem" e que a psicologia social investiga como representação no cotidiano - está arraigada no imaginário brasileiro.

(...)

Folha - Episódios recorrentes de corrupção têm gerado pouca reação na sociedade brasileira. Por quê?

Sandra - No Brasil, em geral, há uma reafirmação de um fatalismo: "a política é assim mesmo", "esses caras não têm jeito", "quem pode faz mesmo". Seria um pouco pesado dizer, mas existe uma disseminação de um certo comportamento corrupto na sociedade brasileira. É o sujeito que suborna o policial para não levar um multa, que compra a carteira de motorista, que pede favor pessoal ao vereador, que sonega impostos. Existe uma simetria entre a rua e a política. A relação com a coisa pública não é só dos políticos, ela é nossa. Está tanto nos microespaços do cotidiano como nos microespaços institucionais brasileiros.

(...)

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DR. DRAUZIO VARELLA, no artigo Incoerência católica, publicado no jornal Folha de São Paulo, do dia 14/3/2009:

 "Aos colegas [médicos] de Pernambuco responsáveis pelo abortamento na menina de nove anos, quero dar os parabéns. (...)

 

Não se deixem abater, é preciso entender as normas da Igreja Católica. Seu compromisso é com a vida depois da morte. Para ela, o sofrimento é purificador: “Chorai e gemei neste vale de lágrimas, porque vosso será o reino dos ceús”, não é o que pregam?

 

É uma cosmovisão antagônica à da medicina. Nenhum de nós [médicos] daria tal conselho em lugar de analgésicos para alguém com cólica renal. Nosso compromisso profissional é com a vida terrena, o deles, com a eterna.

(...)

Os males que a igreja causa à sociedade em nome de Deus vão muito além da excomunhão de médicos, medida arbitrária de impacto desprezível.

(...)."

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ARTIGO INTITULADO “MAPEANDO A CRIAÇÃO”, DE AUTORIA DO FÍSICO MARCELO GLEISER,  (Folha, 19/4/2009, caderno MAIS!).

"Estamos prestes a ver detalhes da criação do cosmo.(...).

Dia 6 de maio, um foguete Ariane-5 da Agência Espacial Europeia decolará com uma carga preciosa: o telescópio de infravermelho Herschel e o telescópio de micro-ondas Planck, que prometem revolucionar nosso conhecimento do Universo. Nada mais apropriado para o Ano Internacional da Astronomia.

(...)

Entre outras coisas, seu objetivo [do Herschel] é capturar a radiação emitida por objetos extremamente distantes, as primeiras galáxias e sua subsequente evolução.

 

Vale lembrar que, em astronomia, quanto mais distante o objeto, mais antigo ele é. Isso porque a luz emitida por uma estrela ou por uma nuvem de gás precisa viajar até nós, o que toma tempo.

(...)

O Sol, por exemplo, está a 8 minutos-luz de distância da Terra: a luz demora 8 minutos de lá até aqui. Andrômeda, a galáxia mais próxima de nós, está a dois milhões de anos-luz: a luz que vemos agora saiu de lá há dois milhões de anos. Portanto, olhar para o espaço é viajar para o passado, a única máquina do tempo que conhecemos. Quanto mais poderoso o telescópio, mais no passado mergulhamos.

 

O telescopia Herschel será capaz de captar a radiação vinda das primeiras estrelas, formadas milhões de anos após o Big Bang, o evento que marca a origem do Universo.

(...)

Se somos formados de poeira das estrelas – nosso carbono, ferro e oxigênio são restos de explosões estelares que ocorreram a bilhões de anos – poderemos compreender como essa poeira é formada e espalhada pelo espaço sideral. (...)

A missão Planck nos remete ainda mais para o passado cósmico. Seus detectores serão capazes de captar com precisão dez vezes maior que a de missões anteriores o eco da primeira radiação liberada no Universo, datando do nascimento dos primeiros átomos, 380 mil anos após o Big Bang.

(...)

E pensar que são apenas 400 anos desde que Galileu apontou um telescópio pela primeira vez aos céus. Poucos testemunhos de inventividade são tão impressioinantes".

 

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FREI BETTO, na matéria PROFESSORES DE ÉTICA (Folha, 27/5/2009, opinião, A3-Tendências e Debates):
 
"É tautológico falar em falta de ética no Congresso Nacional. Os escândalos se sucedem (...). Felizmente, há exceções. (...)
A corrupção decorre da falta de caráter. Esta se manifesta, de modo especial, quando a pessoa se vê investida de uma função de poder, do prefeito que se apropria dos recursos da merenda escolar a congressistas que se julgam no direito de pagar, com dinheiro público, o salário de sua empregada doméstica. Como dar um basta em tanta maracutaia? (...)
A solução é criar, via profunda reforma política, instituições que inibam os corruptos e mecanismo de controle popular. Em sua, tornar a nossa democracia, meramente delegativa, mais representativa e, sobretudo, participativa.
Enquanto isso não acontece, sugiro que convidem, para ministrar um curso de ética no Congresso Nacional, Suas Excelências José Gomes da Costa, Rodrigo Botelho, Francisco Basílio Cavalcante, Clélia Machado, Sebastião Breta e Fagner Tamborim.
João Gomes da Costa é gari da Prefeitura de São Paulo. Ganha R$ 600,00 por mês. Com esse salário, sustenta a si e a três filhos. Dia 18 de maio último, ao varrer a rua, encontrou um cheque no valor de R$ 2.514,95. (...) Procurou uma agência do banco e devolveu. Motivo: vergonha na cara.
Gari, Rodrigo Botelho encontrou, em 26 de maio passado, durante o campeonato mundial de tênis de mesa, no Rio, mochila com R$ 3 mil reais em dinheiro. Viu o nome do dono nos documentos, chamou-o pelo microfone e devolveu. Rodrigo é normal, tem caráter.
Francisco Basílio, faxineiro do aeroporto de Brasília, pai de cinco filhos, ganha salário mínimo. No dia 10 de março de 2004, encontrou uma bolsa de couro no banheiro do aeroporto. Dentro, U$ 10 mil. (...) Francisco declarou: “Tem que ser assim. O que não é nosso precisa ser devolvido. Não pode trazer felicidade”.
Cléia Machado, 29, é auxiliar de serviços gerais e faz bico como manicure. (...) A 11 de março de 2008, encontrou, junto à privada, um pé de meia enrolado em papel higiênico. Dentro, U$ 6.715. Cléia entregou os dólares aos policiais. Entrevistada, disse: “Bem que poderia ser meu de verdade. Mas que não me pertencia, devolvi. Era o certo a fazer”.
(...)
O melhor do Brasil é o brasileiro, não necessariamente nossos congressistas”.
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Matéria do físico brasileiro MARCELO GLEISER, intitulada Ciência e Liberdade, publicada no jornal no jornal Folha de São Paulo, do dia 6/9/2009:
Já que esta coluna cai na véspera do dia da Independência, achei oportuno revisitar um tema que está sempre presente na vida da gente: a questão da liberdade. (...) Convido apenas os leitores a uma reflexão, iluminados, como sempre, pela luz da ciência.
Quando era garoto, gostava muito de citar a seguinte frase: "Ser livre  é poder escolher ao que se prender". (...)
Por exemplo, as crianças que nascem em famílias ultrarreligiosas nunca têm a opção de refletir sobre os valores que lhe são impostos. (...) estão presas até crescerem o suficiente para poder (ou não) se rebelar. O mesmo ocorre com os indivíduos que vivem em regimes políticos totalitários, onde a "verdade" é controlada pelo Estado.
Ou seja, a frase "ser livre é poder escolher ao que se prender" pressupoe que o indivíduo tem a liberdade de escolha.
(...)
Só quem reflete sobre as causas das cousas, em vez de atribuí-las cegamente a causas sobrenaturais, é livre dos medos que assombram a vida.
A educação deve fornecer ao indivíduo a capacidade de reflexão crítica, a habilidade de saber fazer perguntas e não de aceitar passivamente tudo o que lhe é dito. (...) Nunca se deve aceitar algo só porque foi dito por uma autoridade. (...)
Os grandes revolucionários da ciência, Copérnico, Galileu, Kepler, Newton, Einstein, Bohr, foram todos anárquicos a seu modo. Todos defendiam a sua liberdade de pensamento acima de tudo, recusando-se (ou quase, no caso de Galileu, sob ameaça da Inquisição) a aceitar o saber das autoridades. Para eles, ser livre é ter coragem de pensar por si mesmo sobre os grandes problemas, na tentativa de chegar a uma verdade aceita pela maioria.
Quando penso em liberdade, penso nesses nomes... Se hoje somos mais livres, devendo agradecer a eles. Se há tantos longe de ser livres, é porque ainda temos muito o que fazer.
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