Há mais de 10 (dez) anos eu assino o jornal Folha de São Paulo. E quanta aprendizagem eu obtive nesses anos”! A última matéria que muito me ensinou foi O AMOR NÃO É CEGO, publicada em 21/9/2010, equilíbrio 5, que abaixo reproduzo(Hilton Mendonça):
GABRIELA CUPANI
De São Paulo
Não há receita pronta para um relacionamento dar certo, mas alguns ingredientes podem ajudar. É disso que trata “Amar de Olhos Abertos” (ed. Sextante, R$ 24,90, 208 págs.), do psicólogo Jorge Bucay, um dos escritores argentinos mais incensados dos últimos tempos.
Bucay esteve no Brasil para lançar o livro (o primeiro em português), escrito com a colega Silva Salinas – e a Folha aproveitou para “discutir as relações” com ele:
Folha – O que significa amar de olhos abertos?
Jorge Bucay – Gosto de uma definição que diz que o amor é a simples alegria pela existência do outro. Não é possessão, nem felicidade necessariamente. E por isso “com os olhos abertos”. O amor cego não aceita o outro verdadeiramente como ele é.
Folha – Por que tanta gente prefere a intensidade da paixão, mesmo sabendo que é efêmera, a construir algo mais sólido?
Jorge Bucay – É maravilhoso estar apaixonado e muitos preferem a intensidade superficial à profundidade eterna. Mas me pergunto como as pessoas pensam em ficar somente nisso. Qual o sentido de estar apaixonado perdidamente o tempo todo? Penso que é uma questão de maturidade. Também tem a ver com a nossa sociedade, que adora emoções intensas. Procuramos correr mais rápido, chegar antes, desfrutar intensamente. A paixão é como uma droga: no seu momento fugaz faz pensar que você é feliz e não precisa de mais nada. Um olhar, uma palavra te levam aos melhores lugares.
Folha - Como construir uma relação mais profunda?
Jorge Bucay – Seria bom estar preparado para saber que a paixão acaba. Amadurecer significa também desfrutar das coisas que o amor dá, como compartilhar o silêncio e não um beijo, saber que a pessoa está ali, ainda que não esteja ao meu lado. É preciso abrir os olhos, e isso é uma decisão. Ver o par na sua essência. Mas primeiro é preciso estar bem consigo mesmo. Não se deve procurar o sentido da própria vida no companheiro ou nos filhos. Você deve responder a três perguntas básicas: quem sou, aonde vou e com quem. É preciso que eu me conheça antes de te conhecer e que decida meu caminho antes de compartilhá-lo. Senão, é o outro quem vai dizer quem eu sou. E isso é uma carga muito grande.
Folha – O livro diz que as relações duram o que têm de durar, sejam semanas, seja uma vida.
Jorge Bucay – Duram enquanto permitem que ambos cresçam. Significa conhecer-se, gostar de si mesmo, conhecer seus recursos e desenvolvê-los. Ao lado da pessoa amada, está a melhor profundidade para isso. E essa é uma condição para construir um relacionamento. Um casal que não cresce, envelhece. E um casal que envelhece, morre.
O que leva ao fracasso?
Um dos grandes motivos do fracasso é não trocar intensidade por profundidade, viver querendo voltar aos tempos de paixão. Outro ponto de conflito é que as pessoas não conseguem deixar o papel que desempenhavam antes de casar, querem continuar sendo o “filhinho da mamãe”, ou o “caçula da casa”. Outro problema é a intolerância, a incapacidade de aceitar as diferenças, as pessoas discutem pelo dinheiro, pela criação dos filhos e, por fim, morrem sufocadas pela rotina.
E como enfrentar esses problemas ou desafios?
É preciso amor, atração e confiança. Comparo esses pilares a uma mesa de três pés. O tampo da mesa seria um projeto comum firme. Se faltar qualquer um desses elementos, a mesa cai. E sobre tudo isso deve-se montar outras coisas, como a capacidade de trabalhar juntos, de rir das mesmas coisas, de ser sexualmente compatíveis, sentir o outro como um apoio nos momentos difíceis. Às vezes a terapia ajuda, às vezes é um bom passaporte para a separação.
Como saber quando a relação chegou ao fim?
Se sinto que estou sempre no mesmo lugar, que me entedio, que não tenho vontade de estar com o outro, se sempre que saímos precisamos sair com outros casais pois não ficamos bem sozinhos, quando piadas como “o idiota do meu marido” ou a “a burra da minha mulher” se tornam freqüentes, algo não está funcionando.
Parabéns aos psicólogos argentinos, Jorge Bucay e Sílvia Salinas. Que reluzente montanha de ensinamentos ministram eles no livro e nestas pouquíssimas palavras do escritor! Hilton Mendonça.
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A PROTEÇÃO DE DEUS
A minha avó, dona Dica,
Tinha a proteção de Deus,
Mas sofreu injustamente
Anos e anos de câncer
Até morrer, branca e cadavérica.
O pai de um amigo meu,
Gente de primeira linha,
Também erguia as mãos aos céus,
Mas sofreu penosamente
No fundo de uma rede
Até morrer, branco e cadavérico.
O único filho de outro amigo
Foi colhido por um carro
E fez-nos, todos, sofrer amargamente;
O pai e o filho tinham a proteção divina...
Os presídios do Brasil
Vivem lotados de Protegidos de Deus,
Que lá estão porque roubam, matam, estupram,
e até furtam as igrejas, casas do Senhor...
Não fossem meus amigos, ateus,
Que dão a verdadeira e eficaz proteção
Da ciência a gregos e troianos,
Um outro cidadão de bem
Já estaria inválido,
Sem os movimentos de um dos braços.
Um ônibus,
Lotado de romeiros,
A caminho de Aparecida,
Não teve a proteção de Deus
E bateu de frente em uma carreta...
Fanáticos por Deus,
Em um dado mês de setembro,
Sequestraram vários aviões
E os arremessaram para matar outros
Crentes, no mesmo Deus,
que não protegeu ninguém: milhares morreram.
Seria longo este poema,
Mas bastam estas simples palavras
De um ateu convicto,
Que não mata nem estupra,
Que não deve nem engana ninguém,
Que é ótimo pai e ótimo marido,
Para mostrar quão possível é viver bem,
Sem a proteção de Deus,
Divindade essa criada por nós próprios.
(O meu amigo João Evangelista foi o inspirador deste poema, texto que nasceu no dia 28/9/2010, as 2horas da manhã). Hilton Mendonça-São Luís-MA.
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GRANDES QUESTÕES
Qual o metro da minha importância?
Estou mesmo além do gari?
Pra quê cumprimentar o mendigo?
Se autoridade sou,
Devo eu dar uma passada na feira?
E se algum mortal me chamar de tu
No meio da rua?
O pavão é meu vassalo
Ou sou eu o próprio pavão?
Meu superego deve aguardar a vez dele
Nas filas da vida?
Eu, namorar ou casar com uma neguinha?
E se eu mesmo tiver que trocar
O pneu do meu carro em via pública?
Voltar pra casa de ônibus!?...
Ter de limpar o bumbum
Do meu próprio filho?
Isso não vai me humilhar,
Corroer a minha enorme importância?
Esse meu cérebro anda cheio de onda...
E merece uma onda de choque
Que o faça sentir três coisas:
Amargar uma baita pindaíba;
Enterrar precocemente um amor,
Ficar seriamente doente.
(E já não estar?).
Poema de Hilton Mendonça - www.hiltonmendonca.adv.br
Arari/São Luís-Maranhã
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ÉTICO E ANTIÉTICO
Para ganhar a vida,
Sereia mexe e remexe lixões;
Já Margarida,
Mexe e remexe a bolsa alheia.
Seu Odorico vive de vender merenda
Na Praça da Sacola,
Enquanto Paulo, do PPL, fica rico
Desviando a merenda da escola.
Lucrécio ralou trinta anos
Em um banco, até aposentar;
Já o juiz Nicolau
Vendeu uma só sentença,
Que o fez enricar.
O coitado do Pedro
Vende canetas num semáforo;
Já o pastor Segredo vende
A dízimos a salvação,
Para almas medrosas do cão.
Todo esse ser genético
Respira o mesmo ar,
Enxerga a mesma lua,
Mas se difere no ser ético...
Poema de Hilton Mendonça.
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