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Arari-MA, de César Marques
Arari-MA, de César Marques

Reprodução do texto sobre ARARI-MA, constante do DICIONÁRIO HISTÓRICO-GEOGRÁFICO DA PROVÍNCIA DO MARANHÃO, de autoria de César Augusto Marques, 3ª Edição, revista e ampliada, editada em 2008, pela Academia Maranhense de Letras.

Reproduzo, também, o capítulo QUEM FOI O FUNDADOR DE ARARI?, contido no livro Assuntos Ararienses, de Brandt e Silva, que contesta César Marques, nesse particular.

Arari-1 (Freguesia de Nª Srª da Graça do) – O curato do Arari, que está em 3° 14' de lat. merid. e 46° 51' de long. oc., foi fundado em 1723, por José da Cunda d'Eça184 ou de Sá, fidalgo da Casa Real e capitão-mor que foi da Capitania do Maranhão. / Está situado em posição encantadora, e é cortado pelo igarapé chamado Nema, que vem do lago da Morte. / Em 1803 contava três casas, e em 1820, 22 habitações. / Em 1806 o cidadão Lourenço da Cruz Bogéa requereu ao Bispo D. Luís de Brito Homem licença para levantar um templo, e em 1808, já pronta a igreja, criou uma irmandade, e com ela foi à vila da Vitória buscar em solene procissão a imagem de Nª Srª da Graça, a qual, tendo pertencido ao hospício de Butipema, da Ordem de Nª Srª das Mercês, estava na matriz da dita vila com outras, e todas quebradas. Para este fim Lourenço da Cruz Bogéa e os mais moradores do Arari, em 3.mar.1809 requereram ao vigário capitular licença para essa trasladação, a qual lhes foi concedida por despacho de 15 do mesmo mês e ano "com a cláusula de ser primeiramente lavrado na presença do reverendo pároco, pelo escrivão que ele nomeasse, um termo pelo qual se obrigassem os suplicantes a restituir a imagem, logo que lhes fosse pedida,
precedendo ordem desse juízo, e a entregá-la no estado em que recebessem". / Levaram a sagrada imagem do porto grande da vila, em um barco decente e vistosamente ornado, e seguido de muitos cascos e igarités bem enfeitados. / Vieram pelo rio abaixo soltando foguetes e dando outras demonstrações de alegria, até o lugar denominado "Bebedouro", distante do Arari 500 braças, onde saltaram e seguiram por terra até a igreja. / Foi esta procissão acompanhada pelo Vigário Inácio Homem de Brito e por mais de 400 pessoas da capital e do Itapecuru-Mirim, de Viana e seus arredores, e recolhendo-se a imagem ao novo templo em 5.ago.1811, no dia seguinte cantou-se aí solene Te Deum em ação de graça. / Em 7.ago.do ano antecedente este mesmo ancião, tão respeitável pelos seus anos, como por suas virtudes, levantou à sua custa, precedendo licença do Bispo D. Fr. Joaquim de Nª Sª de Nazaré, junto à igreja, uma capela, onde hoje se adora o Senhor do Bom Jesus dos Aflitos, representado em linda e perfeita imagem. Os parametros (sic) e alfaias foram doados pelo mesmo fundador. / Por despacho de 17.nov.1820 mandou o bispo que fosse ela benzida. Pertence hoje esta igreja à Irmandade de Nª Sª da Graça,(*) e com ela nunca o Governo provincial despendeu um só real. (*) Em ago.1810, na freguesia de Nª Sª de Nazaré da Vitória do Mearim, o juiz, procurador, tesoureiro e mais irmãos mesários da Irmandade de Nª Sª do Arari, por escritura pública passada pelo Tabelião José Joaquim de Meireles, se obrigaram a dar para patrimônio da capela, ereta à mesma Senhora, no lugar Arari, "o rendimento de 28 cabeças de gado cavalar (éguas) e dois cavalos para pais das éguas, o qual importava no valor de réis 120$000." O promotor eclesiástico julgou insuficiente este número de animais, e requereu que se declarasse o lugar onde se achavam eles, a fim de se considerar estável o patrimônio. / Seguiu-se uma grande questão até que em 2.mai.1826, o côn. José Constantino Gomes de Castro, como governador do Bispado, julgou suficiente, por sentença, o dote de dois lotes de bestas situados, para que com o rendimento de sua produção (salvo sempre o casco ou número das cabeças) se fizesse a despesa da fábrica e do necessário guisamento da sobredita capela etc.

Obrigaram-se por escritura pública, em 23.Jul.1825, os cidadãos Leonardo  Pimenta Bastos  e Pedro Leandro Fernandes, por si e seus herdeiros, a tratar e apascentar, em seus  terrenos e campos de criar, "30 cabeças de gado cavalar  e dois  lotes de éguas", judicialmente  avaliadas  na quantia de 326$000 réis, sem por isso perceberem alguma remuneração. / Do termo de avaliação feita a 17.out.1825 consta que foram assim julgados: 8 bestas paridas - 8$000 réis cada uma, 64$000 réis; 14 bestas solteiras - 7$000 réis cada uma, 98$000 réis; 4 poldros de 2 anos - 5$ réis cada um, 20$000 réis; 6 poldros de 1 ano - 4$ réis cada um, 24$000 réis; 4 cavalos mansos - 25$ cada um, 100$000; 2 poldros de 1 anos(sic) - 10$ réis cada um, 20$000. Total, 326$000. / Avaliadores - Acácio Raimundo  Garros, Tomás de Aquino Ferreira. / Tendo-se incendiado na noite de 9.out.1827 pelas 9 horas, a igreja da Vitória,  então coberta de palha, em dezembro do ano seguinte a mesa da Irmandade de Nª Srª da Graça do Arari requereu ao vigário capitular, o côn. José Constantino, que servisse de matriz esta capela enquanto se consertava a dita igreja. / Em 13.mai.1836 o juiz de paz José Antônio Fernandes encaminhou ao bispo D. Marcos Antônio de Sousa um requerimento em que vários cidadãos desta localidade pediam que a capela, aí levantada, fosse erigida à categoria de curato, por estar situada duas léguas abaixo da igreja matriz, em terreno cortado de igarapés, e por isso intransitável no inverno, dificultando-se assim, e às vezes tornando-se impossíveis os socorros espirituais. / Os autos de onde estamos colhendo estas informações, referem-se até 12.set. do mesmo ano, dia em que o bispo mandou ouvir o vigário do Mearim.185 / Pela Lei Provincial nº 465, de 24.mai.1858, foi este curato elevado a freguesia, com a invocação de Nª Srª da Graça, sendo filial da de Nª Srª de Nazaré da vila da Vitória do Mearim. / Aos 26.jan. do ano seguinte foi ela, pelo bispo D. Manuel Joaquim da Silveira, instituída canonicamente, tendo por território o que demora entre o igarapé Arari, na margem direita do Mearim, até entestar com os limites da freguesia de Santa Maria de Anajatuba, na margem esquerda do Mearim, todo o território compreendido entre uma linha direita tirada do dito igarapé Arari até entestar com os limites da freguesia de São Francisco Xavier de Monção, de Nª Srª da Conceição de Viana, e de São José de Penalva. / O pe. João Francisco Coelho, já falecido, foi o primeiro pároco encomendado e depois colado. / ( ● ) Cemitério – Tendo a mesa da Irmandade de Nª Srª da Graça dirigido uma petição à Assembléia Provincial solicitando um auxilio para a construção de um cemitério, e não sendo atendida, pois nem mereceu simples menção em suas atas, sem olhar para os seus pequenos recursos, empreendeu esta obra, e começou a realizá-la em fins de 1870. / Correição Judiciária – Em nov.1870 o juiz de Direito, hoje membro do Supremo Tribunal de justiça, aposentado, Dr. Antônio de Sousa Mendes, abriu aqui correição judiciária, sendo esta a segunda vez que tal fato se deu. / A última que aí houve foi há 40 anos, no tempo do corregedor Narciso José de Almeida Guatimozin. / Casa para escola – Em 1873 o alferes José João dos Santos e sua mulher, D. Genoveva Gertrudes Garcia, a pedido do professor público de primeiras letras, Antônio Augusto Rodrigues, doou à Província um terreno com 3 braças de frente e 4½ de fundo para nele ser edificada a casa que se destina para escola pública do sexo masculino. ( ● ) / Lago – Distante da povoação meia légua está o Lago da Morte, que é mui piscoso, tendo no verão meia légua de circunferência, e no inverno 4 léguas, por ser rodeado de campos baixos que se inundam com as chuvas. / Comunica-se este lago com o igarapé Nema, que passa dentro da povoação, e sobre o qual existe uma ponte de pau, muito arruinada e com muitas tábuas soltas. / Para que o lago se não esgote, tapa-se no verão o igarapé, que deságua no rio Mearim. / No inverno também se comunica este lago com o igarapé Arari, que nasce em campos baixos ao lado dele. / Em distância de 2 léguas encontra-se o Laguinho, mais pequeno do que o antecedente, bem piscoso e constante, pois nunca se esgota. / Arredado 4 léguas, acha-se o Açutinga, maior que o Laguinho e igual ao da Morte; dá muito peixe, porém cercado de atoleiros, só é aproveitado quando o verão se apresenta com muito rigor. / Apreciação – É um dos pontos do interior da Província do Maranhão que possui em seu solo o gérmen de um grandioso futuro; ubérrimas terras que com prodigalidade recompensam o agricultor que as rega com o seu suor; pingues campinas que se prestam a uma larga criação de gado vacum, cavalar, e mesmo lanígero; extensas e ainda intactas matas que proporcionam preciosas madeiras para marcenaria e construções navais; e lagos notavelmente piscosos que fartam as mesas do rico e do pobre; tal é o florescente estado do município do Arari, dotado pela Providência de um benigno clima. / A sua população livre, superior a 3.500 almas, dedica-se com assiduidade ao cultivo das terras e à criação de gado, e tanto proveito tira do seu honroso trabalho, que tem sempre meios de satisfazer as suas necessidades, de sua família, quase sempre numerosa e ainda reserva alguma cousa para socorrer-se na velhice, a que tem quase certeza de chegar. Não consta existir aí uma só pessoa que, tendo forças para trabalhar, viva da caridade pública! / A sua população escrava foi limitadíssima; cremos que não atinge o número de 200. / Arari é um dos lugares mais salubres da Província, e onde se vive maior número de anos. Os estrangeiros, principalmente os portugueses, chegam a uma longevidade extraordinária, e para prova disto basta citarem-se os seguintes fatos mais recentes: José de Sousa de Farias contava mais de 120 anos de idade, quando faleceu, e o ten. Lourenço da Cruz Bogéa, mais de 100! / Existem ainda, talvez, mais de 12 homens  que contam 80 e mais anos, e tão fortes e robustos que ainda não pensãm na viagem para o outro mundo! Quanto aos naturais, seria fastidioso enumerar os que têm morrido e os que ainda vivem com aquelas idades. / É tão benigno o clima deste lugar, que tem sido preservado de todas as epidemias que nestes últimos 20 anos têm assolado a capital e muitos logradouros do interior. / O seu comércio e navegação, lavoura e nascente indústria, estão em vias de progresso, e para prova aí se acham estabelecidas umas 18 casas de negócio, que importam anualmente da capital mais de 100 contos de réis de gêneros secos e molhados, afora o que os particulares mandam vir por conta própria, que chega pouco mais ou menos a igual quantia. A moralidade e pontualidade destes negociantes estão comprovadas pelo fato de não ter ainda falido uma só casa que afetasse os interesses da capital. / No transporte de gêneros daí para a capital e vice-versa empregam-se 9 embarcações de lotações diversas, que fazem regularmente duas viagens redondas por mês, auferindo de frente 16 a 18 contos de réis anuais. / A exportação de gêneros de lavoura e indústria, que constam de arroz, milho, frutas, carne-seca e tabuado, sobe a mais de 200 contos de réis. Mais de 20 mil arrobas de açúcar são fabricadas nos engenhos dos srs. tenentes-coronéis José Antônio de Oliveira e José Antônio Fernandes, e alferes Antônio Felipe Pimenta Bastos, sendo o do primeiro movido a vapor, e um dos melhores estabelecimentos da Província, e o açúcar do segundo, notável por sua excelente qualidade. / A criação do gado vacum, o fabrico da carne-seca e serrarias de madeiras constituem a sua pequena, porém lucrativa indústria; não há na capital um só indivíduo que não prefira a carne-seca aí preparada, a qualquer outra de outro ponto da Província, assim como não há artista marceneiro que já não tenha preparado mobílias completas com o cedro daí como o melhor; tem-se vendido até por 50 mil réis a dúzia de tábuas dessa madeira, o que prova a sua boa qualidade. / Por duas vezes aí fomos, e lá colhemos estas informações; lembramo-nos sempre e com saudades do gênio hospitaleiro, franco e agradável dos seus habitantes. / ( ● ) Estatística – Em 1856 tinha esta povoação 40 casas de telha, 90 de palha, 1.086 hab., sendo 313 escravos, e 8 lojas ou quitandas. / Em 1864 contava 2.500 almas, sendo 1.200 do sexo masculino e 1.300 do feminino. Livres, 2.280. / Segundo o Recenseamento de 1871 a população era a seguinte: / Moradores, 2.843, sendo: livres, 2.227; escravos, 616; brancos, 1.688; pardos, 679; pretos, 460; caboclos, 16; solteiros, 2.256; casados, 473; viúvos, 115; católicos, 2.843; nacionais, 2.838; estrangeiros, 5; sabendo ler, 581; analfabetos, 2.262; cegos, 3; surdo-mudo, 1; aleijados, 22; dementes, 3. Casas habitadas, 419; desabitadas, 0. Fogos, 421. ( ● ) / (AL) A povoação do Arari foi elevada à categoria de vila por Lei nº 690, de 4.jun.1864, que criou o município do mesmo nome e o qual é hoje termo da comarca da Vitória do Mearim. / A superfície atual do município calcula-se em 316 km².186 A população em 1896 foi avaliada em 15.000 hab. Em 1937 calcularam-na em 10.037 hab. Pelo recenseamento de 1940 tinha 10.959 hab. / A vila foi elevada a cidade por Lei nº 45, de 29.mar.1938. / Arari tem agência de correio, estação telegráfica inaugurada a 28.jul.1923. / É sede de coletoria estadual e federal. / O município tem 1 grupo escolar, 1 curso complementar e 4 escolas isoladas estaduais; 1 grupo escolar, 1 curso complementar, 2 escolas reunidas e 2 jardins de infância particulares; 5 escolas isoladas municipais. / A lavoura produz arroz, mandioca, milho, feijão, gergelim. / A cana-de-açúcar apresenta pequena produção anual. / A extração de amêndoas de babaçu e cera de carnaúba constitui a indústria extrativa, com a pesca nos lagos e baixas do município e no rio Mearim. / A mais importante indústria continua a ser a pecuária, com a criação do gado vacum nos vastíssimos campos locais. Há exportação de couros, carne-seca, crina e outros produtos animais. / O rebanho bovino foi calculado em 1947 em 51.920 cabeças; o equino em 10.635. / O valor da produção em 1947 foi calculado em Cr$ 2.024.824,00. / Os transportes são feitos por lanchas-motores de empresas de navegação que descem e sobem o rio Mearim, assim como por barcos a vela. / Arari é um dos principais portos fluviais do Estado. Aí estacionam diariamente várias embarcações que trafegam no rio Mearim, conduzindo passageiros, gêneros e mercadorias. / Além da cidade, há no município os portos de Curral da Igreja, Bonfim, Barreiros, Sítio e Peri-Mirim, todos situados à margem do rio Mearim. / A empresa Cotonnière Brasil Ltda. aí fundou alguns estabelecimentos. / O município forma a paróquia de Nª Srª do Arari, do Arcebispado do Maranhão. / A 3 km da cidade à margem direita do Mearim, está o lugar Sítio Velho, a sede primitiva da freguesia. Adiante 6 km, à margem esquerda, está o lugar Bonfim, onde houve outrora uma capela dos religiosos carmelitas. / Em 1939, estando arruinada a matriz, iniciou-se a construção de uma nova igreja consagrada a Nª Srª da Graça, em estilo gótico, a qual já está concluída. / Fundou-se um pequeno grupo de protestantes filiados à Igreja Presbiteriana e um centro espírita denominado Apóstolo do Bem. Mais tarde o protestantismo instituiu a Igreja Assembléia de Deus. / O município do Arari está no quadro apenso à Lei n° 269, de 31.dez.1948, com uma vila denominada Bonfim do Arari, que dista uns 12 km da cidade de Arari e tem 60 casas, 346 hab., capela e escolas públicas. / Há as seguintes localidades principais: Barreiros, a 6 km da cidade, com 73 moradias e 404 hab.: Belém, a 9 km da cidade, com 43 moradias e 235 hab.: Coivas, a 73 km da cidade, com 52 moradias e 300 hab.; Moitas, a 26 km da cidade, com 65 moradias e 330 hab.; Ponta da Ilha, a 90 km da cidade, com 75 moradias e 219 hab.; Santa Inês, a 9 km da cidade, 42 moradias e 200 hab.; Santo Antônio, a 5 km da cidade, com 78 moradias e 400 hab.; Sapucaia, a 2 km da cidade, com 44 moradias e 170 hab.; Sítio, a 12 km da cidade, com 50 moradias e 300 hab.(AL)                                                                  

Arari-2 – Pequena povoação situada na margem direita do rio Mearim, 11 léguas ao sul da capital.

Arari-3   - Igarapé que se comunica com o Nema no inverno.

Arari-Açu – Igarapé pouco distante e acima do Arari-Mirim. Comunica-se com o Acará.

Arari-Mirim – Igarapé acima da foz do Grajaú.

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O padre Clodomir Brandt e Silva, na obra Assuntos Ararienses, págs. 17/20, contesta César Marques, nos seguintes termos:

"4. QUEM FOI O FUNDADOR DE ARARI?

César Augusto Marques, em seu "Dicionário Histórico: - Geográfico da Província do Maranhão", afirma sem rebouços: "O curato de Arari foi fundado em 1723 por José da Cunha d'Eça, fidalgo da Casa Real, e capitão-Mor que foi da Capitania do Maranhão".

Escrevendo em 1916, Dom Francisco de Paula e Silva, que foi ao mesmo tempo um grande bispo e um bom historiador, já punha dúvidas sobre o que escrevera César Marques e dizia: "Não parece, portanto, muito provável que tenha sido ele o fundador de Arari"(refere-se a Cunha d'Eça).

(...)

Peço vênia a todos esses ilustres historiadores para discordar do que afirmam. Dos citados, o que andou mais perto da verdade foi D. Francisco de Paula e Silva. Discordo de Cesar Marques, de Jeronimo Viveiros, de Mário Meireles e dos outros menores, porque o Pe. José da Cunha d'Eça simplesmente não foi o fundador de Arari. Vou dizer porque faço tal afirmação.

Em primeiro lugar, a povoação ARARI só começou a existir dos fins do século XVIII para os começos do século XIX. Quem diz isso? Cesar Marques, assim: (Arari) "está situado em posição encantadora e é cortado pelo igarapé chamado Nema que vem do Lago da Morte. Em 1803 contava três casas, e em 1820, vinte e duas".

Ora, existiria lógica nisso se fosse verdade ter sido o Arari fundado em 1723? Depois de oitenta anos, apenas três casas seriam construídas aqui? E isso depois de uma fundação em que José da Cunha d'Eça teria gasto boa soma do seu patrimonio! Não é possível...

Depois, se Arari foi fundado pelo Pe. José da Cunha d'Eça, em que consistiu essa fundação? Na construção de uma igreja? Deveria ser uma igreja, pois se tratava de um padre!

Mas a primeira igreja de Arari, a capela Nossa Senhora da Graça, foi construída a partir de 1806, data em que Lourenço da Cruz Bogéa requereu ao bispo D. Luís de Brito Homem, "licença para construir uma capela no lugar do Arari". O Eça já tinha morrido há muito tempo.

O melhor argumento, porém, que tenho para negar a fundação de Arari em 1723, pelo Pe. José da Cunha d'Éça, é a inexistência do nome Arari nos livros de assentamentos de batizados e casamentos da Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré da Ribeira do Mearim, a qual deveria estar vinculado este lugar, caso já existisse. No entanto, percorri pacientemente os citados livros, e em parte alguma encontrei batizados e casamentos feitos em Arari. Nem mesmo o nome Arari encontrei. Lá estão batizados e casamentos em "Barreiros", "Oratório do Senhor do Bomfim", "Vassoural" e outros, mas em Arari, não.

O nome Arari aparece pela primeira vez a doze de dezembro de 1812, na seguinte anotação do livro de casamentos da Freguezia de Nossa Senhora de Nazaré da Ribeira do Mearim: "Aos doze dias do mês de dezembro de mil oitocentos e doze anos nesta capella de Nossa Senhora da Graça do Arari desta Frequezia de Nossa Senhora Nazaré da Ribeira do Mearim, feitas as três canônicas denunciações na forma do Sagrado Concílio Tridentino e Constituição deste Bispado etc. se receberam por marido e molher(sic) José Raimundo de Oliveira, natural de Vianna e Anna Vicencia Saraiva, solteira, filha de Vicente Saraiva e Francisca dos Santos". Antes da data de 1806, há o requerimento de Lourenço da Cruz Bogéa pedindo licença para construir "uma capela no lugar Arary".

(...)

Arari não teve fundador. Nasceu e foi crescendo vegetativamente a partir de 1800. Alguém veio, fincou a casa perto da moita de arariba, depois veio outro, e, assim por diante." 

(..)

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